quarta-feira, novembro 26, 2008

Reprodução de artigo do Procurador do Trabalho e Professor Universitário - Eduardo Varandas Araruna

Cássio, Maranhão e a Igreja


'Vejo uma séria violação do princípio de separação entre Estado e Igreja'
(Christopher Reeve)

Em outro texto de minha lavra, cheguei a criticar a postura de religiosos que se infiltravam na política. Penso que chegou a hora de repaginar as minhas idéias devido aos últimos fatos do cenário local.

A verdade é que a postura do arcebispo da Paraíba, nos acontecimentos que decorreram do guilhotinado de Cássio Cunha Lima, deixou-me atônito, seja como cristão-católico, seja como cidadão paraibano.

Na última manifestação do governador, lá estava o arcebispo, confundindo-se com mais um integrante da equipe de governo e a balbuciar questionamentos meta-jurídicos, sofismáticos, sobre o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral.

Já não via com bons olhos as aparições de Sua Eminência, junto com o Pastor Estevam Fernandes, nos programas políticos do governador-candidato, durante o último pleito eleitoral. Isto porque, sem querer turbar a liberdade de expressão política dos religiosos, penso que o sacerdócio cristão e a postura partidária não se devem amalgamar, num mesmo instante em uma só carne.

Antes que me venham citar trechos bíblicos, para fins de contra-argumento, repiso que a minha opinião não decorre de regras da lei mosaica, mas de um primado de bom senso e ética puramente humanos.

Diga-se, de passagem, que a História depõe radicalmente contra a união de instituições religiosas e o poder. Veja-se, por exemplo, o ébano período da idade média, quando a ingerência dos religiosos se apunha acima de qualquer forma de governo ou norma, resultando em manipulação de diversas ordens, arbitrariedades e o mais grave desvio de conduta que se tem notícia em toda a existência da cristandade.

Com isso, não quero dizer que sou contra a candidatura ou a intromissão política, direta ou indireta, de pastores ou padres. Não! Contudo, quando optarem por essa via, devem eticamente afastar-se dos seus misteres religiosos mais proeminentes para não usarem a fé alheia como maneira oblíqua para conquistarem escanchas políticas ou vantagens de outras ordens (esclareço que neste ponto, não me refiro a alguém de forma específica).

Aliás, salvo engano, é a própria igreja católica que tem algumas diretrizes contra-indicando posições políticas excessivas de seu clero.

É claro que tal aspecto em nada abala a fé do povo católico tão pouco implicará em deserção de parte do rebanho para outras organizações cristãs. A igreja, como o corpo de Cristo, não se resume a este ou àquele líder, mas todo o povo que comparece aos templos com sede de Deus.

Os atos isolados dos líderes religiosos, quando deslocados do ministério que abraçaram, jamais vincularão a igreja, dada à sua universalidade, aliás o termo 'catolicismo' vem daí. Assim, ela estará sempre com portas abertas para ricos e pobres, 'maranhistas' ou 'cassistas' e a toda a gente que crer que Deus paira acima das vicissitudes humanas, inclusive as político-partidárias.

Quanto à arquidiocese, ‘non possumus’...

sexta-feira, novembro 21, 2008

O ataque não é a melhor defesa!

Diante da absoluta falta de argumentos, o jurista Eduardo Ferrão, um dos advogados de defesa do (ex) governador Cássio Cunha Lima (PSDB) apelou para o ridículo ontem durante julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da distribuição de cheques com fins eleitoreiros no ‘Caso FAC'. Acusou o Sistema Correio de Comunicação de ‘coronelismo' pelo simples fato do jornal ter publicado uma charge na qual o ministro Eros Grau, relator do processo de cassação de Cássio, "dá uma martelada na cabeça do governador paraibano".

Ué?! Qual o problema Ferrão? Aliás, o que uma coisa tem a ver com a outra? Embora as duas primeiras letras destas palavras sejam iguais, o significado de cheque e charge são bastante diferentes. Por mais que o cartunista do Correio, o talentoso Cristovam Tadeu seja um excelente artista do humor gráfico ninguém deu a mínima para a charge.

Em sua fala, Eduardo Ferrão ressaltou, ainda, que o programa do governo do estado tem amparo legal e foi gerido por um conselho gestor, tendo em sua formação o arcebispo da Paraíba, D. Aldo Pagotto. Outro lapso de Ferrão que tem residência pessoal e profissional em Brasília foi citar o arcebispo paraibano. Novamente, o relator e os ministros ficaram sem entender bulhufas. Como assim Ferrão? E daí que o clérigo seja membro do tal conselho gestor? O que isso prova?

Depois de tantos tropeços na tentativa de defesa do indefensável, Ferrão saiu do plenário com o receio de ser alvo do nanquim de Cristovam Tadeu numa charge no melhor estilo “after day” e com a certeza de que a decisão não deixou espaço para ele reclamar com o bispo e muito menos com o arcebispo.