quarta-feira, janeiro 19, 2011

Sem graça

Há cerca de 15 anos assisti a um show de Shaolin pela primeira vez. Depois disso passei a acompanhar seu trabalho pela TV local e em rede nacional, revendo-o pessoalmente apenas para uma entrevista que realizei para o Jornal Correio, em 2002. Voltando ao show de 1996 numa calourada da Faculdade de Comunicação Social (UEPB), é preciso destacar que apesar do pequeno número de pessoas, Jozenilton Veloso já dava demonstrações do talento de um artista nato.

Como eu fazia parte do Centro Acadêmico que estava organizando o evento, fiquei na frente do palco e quando Shaolin começou suas imitações e a contar piadas, quase racho o bico de rir. Ri tanto que o artista aproveitou a "deixa" para dizer que me contrataria para ir ao próximo show dele no teatro Municipal: "- Rapaz, vou contratar essa galeguinha pra ela ficar rindo na primeira fila do meu show no Teatro!" A gargalhada foi geral e não será preciso dizer que corei e ri ainda mais.

Depois, o rapaz foi se torando mais conhecido do público campinense através de um programa exibido durante a semana na TV Borborema com produção jornalista, radialista e professor do curso de Comunicação, Altamir Guimarães, o mestre Mica, em que Shaolin fazia paródias e imitava personalidades conhecidas de Campina Grande, notadamente políticos. Neste período, algumas pessoas imitadas chegaram a chiar, embora anos mais tarde, depois que Shaolin fez sucesso no eixo Rio-São Paulo, passaram a elogiá-lo e até torcer para serem alvos de suas imitações. Infelizmente, o público sempre precisa da chancela do Sudeste para que reconhecer devidamente seus conterrâneos.

Ontem pela manhã, ao saber do acidente que deixou o humorista em estado grave, a lembrança daquele show da calourada de Comunicação foi inevitável: de um paraibano que se destacou pelo talento e pelo esforço, de um artista que orgulha a cidade e o Estado, semeando riso e bom humor a todo o país. Shaolin tem o dom de fazer rir sem muito esforço, sem demandar grandes produções. Ao deparar-se com o caminhão que entrava na contramão da BR-230, não houve tempo de imitar um super-herói, mas entregue aos cuidados dos médicos e a misericórdia de Deus, poderá se recuperar e voltar dos comerciais com uma piada que fará seus fãs sorrirem aliviados.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Repetição e banalização

Em um dia qualquer da década de 1980, as autoridades policiais e a imprensa, deu-se conta – não necessariamente ao mesmo tempo – de que o número de assaltos, arrombamentos e furtos, havia aumentado e tornado-se corriqueiro em Campina Grande.

Para isso, justificativas não faltaram, algumas bastante preconceituosas. Êxodo rural, inflação, consumo de drogas, falta de investimento na segurança pública e até o crescimento da cidade, sempre estiveram na ponta da língua dos analistas de plantão para tentar explicar o aumento da criminalidade.

Dez anos depois, foi a vez dos homicídios passarem a ser a pautar com assustadora freqüência os noticiários. Novamente, foram apontadas as possíveis causas para o crescimento do crime, por sinal, as mesmas elencadas para explicar os assaltos. Com a entrada do novo milênio, os assassinatos tornaram-se tão comuns que nem todos foram pautados na imprensa local.

Em 2010, Campina Grande registrou quase 200 assassinatos com aumento de 30% em relação ao ano anterior. Apesar da gravidade, as notícias sobre homicídios deixaram de sensibilizar os leitores sob o ponto de vista moral e social, atraindo-o apenas pelo conteúdo espetaculoso em que eles estiverem envolvidos.

Um ano depois, assistimos o aumento da explosão de caixas eletrônicos, principalmente nas cidades do interior, que já contabiliza uma média de 2,5 por dia nos primeiros 18 dias de 2011. Se a estatística se mantiver neste mesmo nível, em pouco tempo, a modalidade criminosa deixará de causar indignação, repetindo o que ocorreu com os demais crimes. Qual será o dia em que autoridades, imprensa e sociedade passarão a refletir e tomar medidas de enfrentamento à violência sem repetir os erros do passado, de maneira profunda e pragmática? (Fernanda Souza)