sexta-feira, outubro 14, 2011

A tradução da modernidade

Campina Grande não está entre as poucas cidades que exibem a exuberância do litoral paraibano, um dos mais bonitos do Brasil, também não possui diferenças naturais significativas, as belezas que encantam turistas no Brejo, Sertão e Cariri. Situada no Agreste, Campina Grande se destaca e seduz seus filhos e visitantes por algo que está além do visível - pelo seu poder de transformação. É na Rainha da Borborema, onde “as coisas acontecem”, onde grande parte dos fatos sócio-politicos são definidos, onde a economia se expande e o futuro se antecipa. Daí o sentimento de grandeza do campinense.

Foi em Campina Grande que figuras como Elba Ramalho e Jackson do Pandeiro se projetaram para o sucesso e onde várias famílias do Sertão fincaram raízes, contribuindo para o desenvolvimento econômico da cidade. É o lugar onde brejeiros, caririzeiros e paraibanos de todo o Estado, estudam, tratam de sua saúde, trabalham e se divertem.

Os estabelecimentos de saúde e educação são os mais requisitados. Dentre as universidades, a UFCG alcançou a 38ª colocação no ranking Top Universities entre as melhores universidades da América Latina em termos de produção científica.
Na árvore genealógica política do Estado, Campina Grande tem vários sobrenomes de destaque, tanto de famílias tradicionais, como novas forças políticas.

A cidade tem os dois dos maiores clubes de futebol do Estado, além de atletas de fama nacional, como Marcelinho Paraiba e Hulk, recentemente escalado para a Seleção Brasileira. Apesar da tradição futebolística, Campina é pioneira na prática do downhill no Nordeste.

Na Serra da Borborema, a diversidade fica nítida também na religião. Na cidade é realizado um encontro ecumênico, sui generis no Brasil – o Encontro para Nova Consciência – e um dos maiores eventos evangélicos do país – O Encontro da Consciência Cristã. Há igrejas, sinagogas, centros espíritas, famosos terreiros de candomblé, templos de meditação budista, e solitários remanescentes adeptos das Borboletas Azuis que até bem pouco tempo, ainda transitavam pelas ruas da cidade.

Em Campina Grande, a feira central repleta de objetos, modos e símbolos incomuns aos dias atuais é o charmoso contraponto aos projetos e pesquisas desenvolvidos nas universidades da cidade higt tech. E no Parque do Povo, feirantes e estudiosos comemoram uma das maiores festas populares do Brasil, transmitida este ano, ao vivo, para vários países através da Record News.

Aos 147 anos, a cidade é conhecida em todo país, principalmente pela sua festa junina – o Maior São João do Mundo e pelo recente avanço tecnológico. Justamente nestas duas referências está o paradoxo e a chave para explicar o poder de atração da cidade: tradição e modernidade traduzidas em desenvolvimento.

domingo, julho 31, 2011

Por que que as mulheres traem?

Eu poderia começar este post escrevendo porque algumas mulheres não traem, mas vou pelo caminho mais fácil, afinal a maioria trai sim e como muito, mas muito mais habilidade que os homens. Mas vamos ao desafio lançado pelo blogueiro Ronaldo Magella no Twitter.

As revistas femininas e experts de plantão dizem que as mulheres traem por vingança. Para dar o troco no namorado galinha, no marido infiel. Em alguns casos, isso infelizmente é verdade.

Mas existem as mulheres que traem pelo que justificam como “necessidade” para fugir do feijão com arroz de casa. Daquele cardápio meia boca que alguns maridos impõem à esposa enquanto regala as “amigas” nas puladas de cerca.

Sem atenção, cansadas de cobranças e até agredidas física e verbalmente – depois de terem sucumbido ao estilo de vida do marido e se dedicado com paciência – buscam na infidelidade, o lado A de uma relação: “beijinhos e carinhos sem ter fim”. O amante é bonito, rico, carinhoso, cheio de tesão, não reclama e não faz cobranças.

Claro que há as que estão cheias de mimos, carinhos, atenção, amor e presentes do marido, mas preferem o ricardão da rua ao lado. Talvez sejam em menor número. Traem só para variar, porque precisam de um otário para bancá-las e um gigolô para ficar com o troco.

De modo geral, para responder a pergunta do blogueiro, sinceramente, não sei. Não tenho opinião formada porque não sou sexista. Suponho que como ele considera em relação aos homens, a traição feminina seja motivada pela mesma coisa: autoafirmação. E acrescentaria imaturidade, insatisfação diante de si, do outro e do mundo, vaidade, carência e impulsividade sexual mesmo.

Homens, mulheres, somos todos iguais no pior e no melhor...nas histórias de amor e desamor, geralmente não há mocinhos e nem bandidos.

terça-feira, junho 21, 2011

O “magiar” da Rainha

Há personalidades ou homens comuns que pelos seus feitos ou carisma, são como ruas, praças, parques e símbolos de uma cidade. São patrimônios imateriais que nos dão um sentimento de pertencimento maior que qualquer livro de história. Neste perfil, se enquadra perfeitamente o húngaro Janos Wathy Tatrai, ex-técnico do Treze e do Campinense e de vários times brasileiros e do exterior.

Com 89 anos, o húngaro natural de Vszprèm possui uma história de vida repleta de lances inusitados, desafios e conquistas. Depois de ter sobrevivido a 2ª Guerra Mundial, chegou ao Brasil em 1953, onde trabalhou como cozinheiro, corretor de imóveis, vendedor de bijuterias e no setor de turismo, caindo de pára-quedas no futebol.

Convidado casualmente para comandar um time de futebol, descobriu sua paixão pelo esporte, tanto que mesmo depois de se aposentar dos gramados, o húngaro passou a agenciar jogadores. Como empresário, destacava-se por sua conduta ética e prestigio junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aos grandes times.

De luto, o futebol reverencia o velho gringo, cidadão honorário de Campina Grande, cuja figura elegante e sorriso largo, impresso em tempo integral em sua face, ficará na memória dos amigos ou dos campinenses que simplesmente se deparavam com ele passeando pelas ruas de Campina, cidade pela qual fazia questão de declarar seu amor.

Em entrevista há cerca de cinco anos a um site de esportes, o magiar Tatray disse que nasceu duas vezes. "Nasci em Vszprèm... Nasci de novo no Brasil... essa Campina Grande é minha Vszprèm".

domingo, junho 19, 2011

Forró de plástico, pé-de-serra, sertanejos e baianos

Em entrevista por telefone, na última sexta-feira, dia 17, ao Jornal Correio, o mestre Dominguinhos, desmistificou a história de que os festejos juninos de Caruaru são mais autênticos que os de Campina Grande. Ele que é uma das maiores atrações do Maior São João do Mundo, comentou que está ressentido com a organização do São João de Caruaru por priorizar bandas do chamado “forró de plástico”, em detrimento dos artistas conhecidos como os representantes da cultura regional tradicional.

De acordo com Dominguinhos, o cachê oferecido a ele e aos artistas locais em terras pernambucanas é infinitamente inferior ao das bandas que estão na mídia e dos sertanejos.

O comentário de um dos mais importantes artistas brasileiros vivo e em atividade, só confirmou o que há alguns anos vem acontecendo com a maioria das festas juninas do Nordeste: da espetacularização da festa. A única diferença é que em Caruaru, este processo vinha ocorrendo sob o manto de um marketing voltado para a preservação tradição regional.

Antes que alguém atribua a insatisfação do sanfoneiro a questões políticas pelo fato de Dominguinhos ter cantado na campanha do tucano José Serra, o ano passado, vale uma checadinha na programação de Caruaru deste ano. Na ponta do lápis, o número de bandas de plástico supera o das demais atrações, dentre as quais ainda estão incluídas a baiana Chiclete com Banana e Amigos Sertanejos.

Assim como nas outras cidades, a organização veio cedendo há alguns anos ao apelo do mercado fonográfico, irremediavelmente atrelado ao do público. Já Campina Grande, que já chegou a ser alvo de críticas por algumas opções musicais durante o Maior São João do Mundo, o evento sempre privilegiou a diversidade, mantendo um raro equilíbrio entre atrações do forró “pé de serra”.

quinta-feira, março 17, 2011

Diplomacia não faz mal

O prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego e o ex-governador Cássio Cunha Lima, se encontraram ontem pela manhã no Palácio do Bispo. Na pauta: a implantação de uma unidade da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) na Rainha da Borborema. Enquanto para alguns, o encontro repercutiu como o aceno de uma aproximação política, para outros tantos, a reação foi de surpresa. Correligionários de um candidato e do outro, demonstraram indignação ao ver os adversários juntos.

No recorte da fala de algumas destas pessoas, fica claro que a leitura é de traição. Para eles, Veneziano e Cássio lado a lado, significa uma espécie de infidelidade dos dois diante dos seus eleitores.

Ao testemunhar as declarações de alguns destes correligionários, verificamos como a política vem sendo personalista e é alimentada por picuinhas. Se a civilização se caracteriza pela existência de diálogo, diplomacia, respeito e amizade, apenas por estas razões, o encontro entre Cássio e Veneziano já teria sido perfeitamente normal. Mais ainda, tendo como alvo a luta para a implantação de uma sede da AACD em Campina. Caso a cidade seja escolhida, será denominada Associação de Reabilitação da Criança Deficiente (ARCD).

Estranhamente, correligionários miúdos, acostumados à política do curral, vociferam, desconhecem a diferença entre as palavras: batalha e luta e entre adversários e inimigos. Na reunião de ontem e em qualquer encontro entre adversários políticos, sempre haverá momentos de trégua, onde os valores que transcendem as cores, as bandeiras e os humores de cada um, prevalecerão em nome do interesse comum. Que a violência, a maledicência e a ignorância, causem indignação; a diplomacia, não!

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Sem graça

Há cerca de 15 anos assisti a um show de Shaolin pela primeira vez. Depois disso passei a acompanhar seu trabalho pela TV local e em rede nacional, revendo-o pessoalmente apenas para uma entrevista que realizei para o Jornal Correio, em 2002. Voltando ao show de 1996 numa calourada da Faculdade de Comunicação Social (UEPB), é preciso destacar que apesar do pequeno número de pessoas, Jozenilton Veloso já dava demonstrações do talento de um artista nato.

Como eu fazia parte do Centro Acadêmico que estava organizando o evento, fiquei na frente do palco e quando Shaolin começou suas imitações e a contar piadas, quase racho o bico de rir. Ri tanto que o artista aproveitou a "deixa" para dizer que me contrataria para ir ao próximo show dele no teatro Municipal: "- Rapaz, vou contratar essa galeguinha pra ela ficar rindo na primeira fila do meu show no Teatro!" A gargalhada foi geral e não será preciso dizer que corei e ri ainda mais.

Depois, o rapaz foi se torando mais conhecido do público campinense através de um programa exibido durante a semana na TV Borborema com produção jornalista, radialista e professor do curso de Comunicação, Altamir Guimarães, o mestre Mica, em que Shaolin fazia paródias e imitava personalidades conhecidas de Campina Grande, notadamente políticos. Neste período, algumas pessoas imitadas chegaram a chiar, embora anos mais tarde, depois que Shaolin fez sucesso no eixo Rio-São Paulo, passaram a elogiá-lo e até torcer para serem alvos de suas imitações. Infelizmente, o público sempre precisa da chancela do Sudeste para que reconhecer devidamente seus conterrâneos.

Ontem pela manhã, ao saber do acidente que deixou o humorista em estado grave, a lembrança daquele show da calourada de Comunicação foi inevitável: de um paraibano que se destacou pelo talento e pelo esforço, de um artista que orgulha a cidade e o Estado, semeando riso e bom humor a todo o país. Shaolin tem o dom de fazer rir sem muito esforço, sem demandar grandes produções. Ao deparar-se com o caminhão que entrava na contramão da BR-230, não houve tempo de imitar um super-herói, mas entregue aos cuidados dos médicos e a misericórdia de Deus, poderá se recuperar e voltar dos comerciais com uma piada que fará seus fãs sorrirem aliviados.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Repetição e banalização

Em um dia qualquer da década de 1980, as autoridades policiais e a imprensa, deu-se conta – não necessariamente ao mesmo tempo – de que o número de assaltos, arrombamentos e furtos, havia aumentado e tornado-se corriqueiro em Campina Grande.

Para isso, justificativas não faltaram, algumas bastante preconceituosas. Êxodo rural, inflação, consumo de drogas, falta de investimento na segurança pública e até o crescimento da cidade, sempre estiveram na ponta da língua dos analistas de plantão para tentar explicar o aumento da criminalidade.

Dez anos depois, foi a vez dos homicídios passarem a ser a pautar com assustadora freqüência os noticiários. Novamente, foram apontadas as possíveis causas para o crescimento do crime, por sinal, as mesmas elencadas para explicar os assaltos. Com a entrada do novo milênio, os assassinatos tornaram-se tão comuns que nem todos foram pautados na imprensa local.

Em 2010, Campina Grande registrou quase 200 assassinatos com aumento de 30% em relação ao ano anterior. Apesar da gravidade, as notícias sobre homicídios deixaram de sensibilizar os leitores sob o ponto de vista moral e social, atraindo-o apenas pelo conteúdo espetaculoso em que eles estiverem envolvidos.

Um ano depois, assistimos o aumento da explosão de caixas eletrônicos, principalmente nas cidades do interior, que já contabiliza uma média de 2,5 por dia nos primeiros 18 dias de 2011. Se a estatística se mantiver neste mesmo nível, em pouco tempo, a modalidade criminosa deixará de causar indignação, repetindo o que ocorreu com os demais crimes. Qual será o dia em que autoridades, imprensa e sociedade passarão a refletir e tomar medidas de enfrentamento à violência sem repetir os erros do passado, de maneira profunda e pragmática? (Fernanda Souza)