quinta-feira, junho 12, 2008

Tradição do atraso

Para um Estado com forte tradição rural, a proibição das fogueiras caiu como uma bomba. O argumento usado por quem classifica a fogueira como “símbolo maior da festa” o termo “tradição” é rapidamente invocado para justificar um costume caro aos nordestinos, que aproveitam as noites do mês de junho para reunir os familiares e amigos.

São remanescentes de uma época em que não havia assalto nas portas de residências e as fogueiras propiciavam o bate-papo entre vizinhos - sociabilidades que a violência urbana inibiu. Vivemos um tempo bem diferente da época em que na antiga Judéia, as primas Isabel e Maria, combinaram que a primeira a ganhar bebê anunciaria a novidade, acendendo uma fogueira em frente à própria casa.

Isabel cumpriu a promessa quando seu filho João Batista no dia 24 de junho há vários séculos. Se fosse nossa contemporânea poderia ter usado outro meio de comunicação. Inegavelmente a simbologia da fogueira é mais charmosa que qualquer outra e segundo a etnologia é mais antiga ainda que a atribuída a era Cristã. Entre os povos primitivos era comum a prática de acender fogueiras nos solstícios de verão e inverno, em homenagem ao deus-sol.

A Igreja Católica já desobrigou seus fiéis a este tipo de ritual, derrubando qualquer tipo de justificativa em prol da tradição religiosa. Se a tradição relatada for a cultural, a situação é ainda mais estapafúrdia, considerando que os movimentos culturais não são fixos e se renovam incessantemente.

Acender fogueira em áreas urbanas pressupõe problemas que infelizmente são reais e atuais. Neste período aumenta em mais de 50% o número de internamentos de pessoas alérgicas afetadas pela fumaça das fogueiras, além de queimaduras, principalmente entre as crianças. O costume também pressupõe a degradação ambiental e a ameaça a decolagem de aeronaves e outros inconvenientes que nenhuma tradição tem o poder de justificar.

Um comentário:

Asueli disse...

deixa de ser chata, fogueira é legal!!!