O prédio de onde a pequena Isabella Nardoni foi jogada já se tornou uma espécie de ponto turístico, onde transeuntes incógnitos fazem fotografias do local. E não são profissionais da imprensa! Curiosidade mórbida?
O que no início parecia apenas mais um caso policial com ingredientes trágicos suficientes para alguns dias de grande exposição midiática e de comoção pública, virou uma novela de longos e repetitivos capítulos à semelhança de um espetáculo.
Talvez o “espetáculo” de que fala Guy Debord em seu livro A Sociedade do Espetáculo -lançado na França em 1967, e hoje clássico em muitos países. Em uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existência real, as pessoas precisam olhar para outros que vivem em seu lugar.
É como se no espetáculo passássemos da degradação do “ser/ter” para o reinado soberano do “ser/aparecer” e nesta relação, a visibilidade dada a determinados acontecimentos, ainda que trágicos quebra o cotidiano e a trivialidade.
Muito além dos debates sobre os autores do crime, sobre a os pré-julgamentos, evidências, o medo de impunidade e outros aspectos que envolvem o caso Isabella, está o questionamento sobre a própria existência dos consumidores deste espetáculo.
De uma novela escrita sem final feliz, mas que só terá um final com a punição dos culpados, desfecho que deveria ser esperado e cobrado para todo enredo semelhante da vida real., mas que acaba sendo relegado ao esquecimento.
Sem a devida visibilidade, centenas de Isabellas no Brasil, deixadas de fora do reality show da sociedade do espetáculo, do reinado da existência condicionada à aparição deixam de ser, tornam-se estatísticas recitadas pela mesma coletividade, em alguns momentos tão sensível e solidária às tragédias humanas.
UM BULGARI DO MEU JARDIM
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*Professora Nicinha, de Jardim do Seridó, gosta de ouvir os ex-alunos
mandando recados para ela. * *Fotos e texto: Valdívia Costa*
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Há 9 anos
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